Boris Becker fala sobre a mudança de perspetiva desde que passou algum tempo atrás das grades: "Não significa nada comparado com a prisão"

Boris Becker partilhou a forma como as suas perspectivas sobre o desporto e sobre si próprio foram alteradas pelo tempo que passou na prisão.

O seis vezes campeão do Grand Slam foi detido e condenado a dois anos e meio de prisão em abril de 2022. Foi acusado de esconder 2,5 milhões de libras de ativos e empréstimos para evitar o pagamento de dívidas depois de ter sido declarado falido em 2017. O tenista alemão passou as primeiras semanas de detenção na prisão de Wandsworth, em Londres, antes de se mudar para a prisão de Huntercombe, em Oxfordshire.

Em dezembro de 2022, Becker foi libertado depois de ter cumprido oito meses da sua pena devido a um regime acelerado em que os cidadãos estrangeiros são deportados se estiverem reunidas determinadas condições. Como resultado, o homem de 55 anos regressou à Alemanha e não poderá entrar no Reino Unido durante dez anos.

Becker: As queixas dos jogadores não são nada comparativamente à prisão

Numa entrevista recente ao L'Equipe, Becker falou de como o tempo que passou atrás das grades mudou a sua perspetiva da vida dos jogadores de ténis, dizendo que as suas queixas não eram, muitas vezes, tão difíceis como passar algum tempo na prisão: "Quando ouço os jogadores a queixarem-se da pressão que sentem numa determinada altura, rio-me. Quando ouço os jogadores queixarem-se da qualidade da comida do salão, rio-me. Quando ouço os jogadores a queixarem-se dos treinos e das condições dos campos, rio-me", disse (citado pelo Blick).

Depois, falou da sua experiência na prisão: "Não significa nada comparado com o tempo que passámos na prisão. Na primeira e na última noite, não se dorme nem um segundo", acrescentou. O antigo número 1 do mundo já tinha descrito a sua passagem pela prisão como "brutal... uma experiência muito, muito diferente do que se vê nos filmes, do que se ouve nas histórias".

Também recordou como era "apenas um número" na prisão, mas também como a sua experiência lhe deu tempo para refletir. "Na prisão, não se é ninguém. Somos apenas um número. O meu era A2923EV. Não me chamavam Boris... Acho que redescobri a pessoa que costumava ser. Aprendi uma dura lição. Uma muito cara. Muito dolorosa. Mas tudo isto tem algo de importante e bom para mim. E algumas coisas acontecem por uma boa razão".

Desde a sua libertação da prisão, há quase um ano, Becker voltou a treinar o jogador dinamarquês Holger Rune, de 20 anos. O número 8 do mundo está atualmente a competir no Nitto ATP Finals em Turim, onde perdeu um confronto renhido contra o número 1 do mundo Novak Djokovic, que Becker treinou de 2014 a 2016.