Toni Nadal nunca teve receio de desafiar o status quo no ténis e, na antecâmara das ATP Finals em Turim, o reputado treinador voltou a acender o debate. O tio e mentor de longa data de Rafael Nadal considera que o ténis moderno se tornou demasiado rápido, demasiado físico e, por vezes, repetitivo.
Entre críticas constantes ao calendário exigente, Nadal propõe outra via numa entrevista à
Gazzeta. “A questão não é o calendário. Muitos vão discordar, mas o verdadeiro problema é que a bola vai sempre depressa demais”, afirmou o antigo treinador de Felix Auger-Aliassime, um dos jogadores em ação esta semana em Turim.
Nadal sublinhou que o problema não está no número de torneios disputados, mas na intensidade pura das trocas atuais. “Já quase não há jogadores táticos; hoje é muitas vezes apenas uma disputa para ver quem bate mais forte. E quando se fazem movimentos tão rápidos, quando um jogador chega à bola a toda a velocidade, trava e volta a arrancar, é fácil o corpo chegar ao limite e lesionar-se. Acho que devíamos tentar abrandar um pouco o ritmo do jogo.”
Para Nadal, esse ritmo implacável retirou parte do encanto original da modalidade. “As lesões não aparecem pelo número de jogos, mas pela intensidade e pela violência do movimento. Já quase não há jogadores táticos como Coria ou Gaudio, que procuravam construir o ponto.”
Na tentativa de recuperar esse equilíbrio perdido, Nadal avançou até com uma solução radical: “Proporia jogar com raquetas mais pequenas. Seria mais fácil para os amadores e mais difícil para os profissionais, e o jogo seria menos violento.”
“A beleza do ténis é poder ver o movimento. Quando McEnroe ou Nastase jogavam, havia de tudo: o gesto, o toque, a tática. O ténis é o único desporto que começa com um ‘penálti’: se servir bem, o adversário não joga... Noutras modalidades mudaram-se as regras para tornar o espetáculo maior.”
Favoritos às ATP Finals: Sinner ligeiramente à frente de Alcaraz
Enquanto analisava o estado atual da modalidade, Nadal focou-se também nas ATP Finals deste ano, onde antevê novo duelo emocionante entre Carlos Alcaraz e Jannik Sinner. “Obviamente os grandes favoritos continuam a ser o Alcaraz e o Sinner”, disse. “Nos últimos torneios, o Jannik jogou a um nível muito alto e, em Turim, creio que pode partir ligeiramente à frente do Carlos, que, honestamente, me parece um pouco menos confortável numa superfície tão rápida. Vai ser, certamente, uma grande batalha, a não perder.”
O italiano chega como campeão em título — depois de uma campanha perfeita em 2024, sem ceder sets — e terá a difícil missão de defender 1.500 pontos com a liderança do ranking mundial em jogo. Após um encontro exigente para Alcaraz e Sinner (em que ambos somaram 200 pontos), a diferença é agora de 1.050 pontos, pelo que o italiano terá de procurar repetir uma campanha perfeita e esperar uma saída precoce de Alcaraz se quiser terminar o ano no topo da hierarquia.
Noutro plano, Toni Nadal foi questionado sobre as dificuldades históricas de Rafael Nadal nas ATP Finals — um dos poucos torneios que o campeão de 22 majors não conseguiu conquistar — e apresentou uma explicação simples. “Bem, antes de mais, porque as Finals nunca foram jogadas em terra batida”, assinalou. “Tirando o serviço, o Rafael sempre jogou bem em todo o lado, mas quase sempre chegava ao fim da época muito cansado fisicamente.”
Rafa apurou-se um total de 16 vezes para as ATP Finals — embora, por lesões e ausências, tenha ‘apenas’ disputado o torneio em 11 ocasiões. Os seus melhores resultados foram as finais de 2010 (derrota com Federer) e 2013 (derrota com Djokovic), além de mais quatro presenças nas meias-finais.