O recente triunfo de
Novak Djokovic em Atenas, onde conquistou o 101.º título da carreira, gerou debate não só sobre o seu ténis, mas também sobre as suas opções estratégicas, longevidade e prioridades pessoais. O antigo n.º 1 mundial
Andy Roddick e o jornalista Jon Wertheim analisaram a vitória e o que ela pode significar para o futuro de Djokovic.
Chegar aos 101 títulos é, por qualquer medida, um feito impressionante. “Foi fantástico ele tê-lo feito”, disse Roddick
no pós-jogo. Wertheim acrescentou contexto, explicando que o torneio de Atenas pertence à família Djokovic. Tal como o próprio Novak, o evento considerou que já não havia conforto na Sérvia e mudou-se para a Grécia. O triunfo de Djokovic ali trouxe um certo misticismo e levantou questões sobre o que poderia significar para o torneio de Turim que se avizinha.
A especulação sobre se Djokovic jogaria em Turim não foi apenas barulho mediático. Wertheim salientou que o presidente da Federação Italiana de Ténis confirmara a participação de Djokovic numa entrevista. Ainda assim, permanecia a dúvida: quando é que Lorenzo Musetti, um dos potenciais adversários de Djokovic, saberia da notícia? Roddick brincou com as opções de Musetti — se devia ter relaxado e feito uma semana leve ou rumado ao Mónaco — para depois afinal não ter com que se preocupar.
Roddick recordou uma troca de mensagens com Wertheim pouco antes dos encontros em Atenas. “Disse: ‘O Novak vai bater o Musetti e depois dizer-lhe que não vai jogar quando se cumprimentarem.’ E ele tinha razão”, relatou Roddick. Djokovic terá informado Musetti apenas à rede, com um sorriso durante o aperto de mão, de que não continuaria no torneio seguinte.
Declaração olímpica
Roddick sublinhou que isso foi perfeitamente razoável. Djokovic detém a licença do torneio de Atenas, o que complica desistir de um evento para jogar outro na semana seguinte. Aos 38 anos, Djokovic não procura um calendário extenuante no fecho da época. Vencer primeiro em Atenas e depois avaliar os passos seguintes foi uma decisão estratégica. “Se sou o Novak, digo ao tipo na rede: ‘Sei que estás desiludido. Continuas em prova. Sem drama’”, disse Roddick. É esta combinação de visão táctica e diplomacia pessoal que continua a definir a carreira de Djokovic.
Para lá da estratégia de torneios, as decisões de Djokovic cruzam-se com o ranking e o calendário ATP. Wertheim notou que 14 Challengers em dezembro contarão para a corrida ATP de 2026. Não influenciam a classificação do ano corrente, mas terão impacto na qualificação da época seguinte, sublinhando como os jogadores equilibram desempenho imediato com planeamento a longo prazo.
A conversa derivou inevitavelmente para a carreira de Djokovic em sentido amplo, incluindo os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028. Roddick expressou dúvidas de que Djokovic participe, enquanto Wertheim elogiou a forma como o sérvio enquadrou publicamente os seus planos. Ao afirmar que quer retirar-se nos JO de LA a carregar a bandeira da Sérvia, Djokovic responde a várias questões de uma vez: as recorrentes perguntas sobre a retirada, o seu orgulho em representar a Sérvia e o prazer que ainda sente ao competir.
“Foi uma forma perfeita de abordar muitas, muitas questões”, disse Wertheim. “A pergunta interminável sobre quando vai retirar-se, as escolhas de vida pessoal, a sua satisfação competitiva — tudo fica arrumado numa só declaração.” Roddick acrescentou que esta abordagem é politicamente hábil. Dá tempo a Djokovic e evita polémicas, permitindo-lhe focar-se na competição enquanto sinaliza intenções para o futuro.
A mudança de Djokovic para a Grécia, observou Wertheim, parece ter também um lado político. Ao viver lá, cria distância em relação às tensões na Sérvia, mantendo os laços pessoais e o legado. O torneio de Atenas tornou-se simultaneamente palco competitivo e despedida simbólica, permitindo-lhe gerir o calendário com cuidado e celebrar vitórias em cenários familiares.
Em última análise, as decisões de Djokovic — sobre participação em torneios, gestão do calendário ou sinalização da retirada — revelam um exercício de equilíbrio meticuloso. Continua a destacar-se em court, a gerir desafios políticos e logísticos fora dele e a manter o fio competitivo enquanto pondera o legado a longo prazo.
Como resumiu Roddick, “Ele está a fazer escolhas que maximizam o prazer e o legado da carreira. Ganhar torneios, gerir o calendário, manter-se competitivo — tudo faz sentido para ele.” Wertheim concordou, notando que a capacidade de Djokovic pensar vários passos à frente permite-lhe manter-se dominante enquanto molda a sua história nos seus próprios termos.
A carreira de Djokovic poderá aproximar-se do crepúsculo, mas o brilho estratégico e o planeamento minucioso garantem que continua a ser uma figura que impõe atenção, respeito e admiração — dentro e fora do court. Atenas foi mais um capítulo numa carreira que recusa roteiros convencionais e, enquanto pondera Turim, os Jogos Olímpicos e o que virá depois, Djokovic continua a definir o que a longevidade no ténis pode realmente ser.