“Não pensei no n.º 1 no início”: Carlos Alcaraz reflete sobre o ponto de viragem da sua época

Carlos Alcaraz recebeu o troféu de Nº 1 no final do ano em plena campanha nas ATP Finals, depois da terceira vitória consecutiva que garante o topo do ranking no fecho da época. O seis vezes campeão do Grand Slam venceu Musetti no último encontro da fase de grupos por 6-4, 6-1 e confirmou a passagem às meias-finais como líder do Grupo Jimmy Connors.

Nesta sexta-feira, o espanhol recebeu o troféu de Nº 1, alcançando o feito pela segunda vez na carreira. Desde logo deixou claro que o momento teve um peso especial pelo que lhe exigiu. O espanhol descreveu a conquista como o retorno a meses de sacrifício, compromisso e crescimento pessoal. “Todo o trabalho árduo durante toda a temporada compensa.”

O jogador de 22 anos refletiu sobre a exigência mental e física que moldou a sua campanha de 2025, ano em que somou um registo de 70-8 e oito títulos, incluindo Roland Garros e o US Open. Embora tenha terminado a época em alta, Alcaraz admitiu que o caminho foi feito de fases duras, longas semanas fora de casa e desafios constantes para manter a atitude positiva. “Olhamos para o início do ano e vemos como fizemos tudo, todo o trabalho, tudo por que passámos.”

Uma constante na sua ascensão foi a alegria que leva para cada jogo — traço que se tornou marca da sua personalidade em court. “Gosto de jogar com alegria dentro de court, fora de court… Quero mesmo ver a vida como felicidade, e acho que isso é o mais importante, ver sempre o lado positivo das coisas.”

Essa mentalidade foi crucial durante a corrida tensa pelo Nº 1 com Jannik Sinner, duelo que se prolongou até às semanas finais da temporada. Já tendo terminado como Nº 1 no final do ano uma vez, aos 19 anos, em 2022, Alcaraz conhecia a pressão da perseguição — mas as expectativas estavam ainda mais altas desta vez. Atribuiu à equipa e ao apoio nas bancadas o mérito de o ajudarem a manter a calma nos momentos-chave. “Ver a minha gente ali atrás de mim, a apoiar-me, deixa-me sempre muito, muito feliz.”

Questionado sobre quando começou a acreditar que o Nº 1 no final do ano era realista, Alcaraz admitiu que não foi no início da época. O ponto de viragem surgiu meses antes, quando arrancou a temporada europeia de terra batida. Foi nessa fase, explicou, que encontrou ritmo, confiança e a clareza necessária para encarar cada torneio com objetivo. “No início do ano, não pensava nisso, porque via-o muito longe. Mas a partir do meio da temporada, quando começou a terra batida, percebi o que tinha de fazer e percebi como devia abordar cada torneio e cada encontro.”

A partir daí, o rendimento disparou. Somou títulos, encadeou séries longas de vitórias e entrou em cada jogo com renovado sentido de missão. O sucesso em terra batida, relva e piso rápido evidenciou a forma como ajustou a preparação ao longo do ano. “Percebi como devia abordar cada torneio e cada encontro.”

O duelo com Sinner tornou-se um dos enredos marcantes da temporada, com ambos a obrigarem-se a novos patamares de consistência e resiliência. Alcaraz descreveu-o como uma disputa que elevou não só o seu ténis, mas também o entusiasmo em torno da modalidade. “A luta que tive contra o Jannik pelo número um, acho que foi uma luta realmente bonita para ambos e também para o público.”

Uma das últimas perguntas que recebeu incidiu sobre os nomes inscritos no troféu de Nº 1 no final do ano — ícones do desporto que admira desde criança. “Só vejo lendas ali… colocar o meu nome e o nome da minha família no mesmo círculo que as lendas do nosso desporto — é um privilégio, é uma honra.”

Para Alcaraz, o troféu simboliza mais do que rankings ou vitórias. Reflete a identidade que construiu como competidor e como pessoa: determinado, alegre, grato e destemido nos maiores palcos. “O que for preciso só para fazer o que merece estar rodeado de lendas.”

Depois de vencer os três encontros da fase de grupos nas ATP Finals contra Alex de Minaur, Taylor Fritz e Lorenzo Musetti, Alcaraz prepara o próximo desafio, diante do vencedor entre Alexander Zverev e Felix Auger-Aliassime. Se avançar, o rival na final será De Minaur ou Jannik Sinner — embora o seu Nº 1 já não esteja em discussão.